Listas de melhores bares ou restaurantes costumam ser discutíveis. Afinal, o que é um bom bar para você? Precisa ter boa música? Espaço para dar uma dançadinha? Papo rolando gostoso na calçada? É lá que você vai encontrar amigos na mesma frequência ou conhecer gente nova? Decoração cool, clássica como a de um bar de hotel ou jeitão despojado, desconstruído? Para ir com a turma ou levar o novo date?
Na hora de desenhar uma lista do que se pode recomendar como melhor, que parâmetros levar em conta? Tem o da qualidade. Qualquer que seja o estilo do lugar ou de quem o frequenta, a função primordial de um bar de coquetelaria é a de oferecer boas bebidas. Parece óbvio, mas a gente vê muita tapeação por aí – e com preço de bar de alta gama.
Quem quiser fugir da roubada pode perguntar aos bartenders em que lugares gostam de beber. Foi o que fizemos: mandamos zaps e inboxes para uma turma da pesada que, na base do voto, decidiu quais são os bares mais interessantes da cidade. Os critérios eram simples: escolher cinco bares cada um, sem poder votar naquele em que trabalha, do qual é dono ou ao qual presta consultoria, para não dar marmelada.
Picco, a simpática casinha da Rua Lisboa, em Pinheiros, é o grande xodó dos profissionais da barra e liderou a lista com alguma vantagem. Nas posições seguintes, houve vários empates e, por isso, decidimos colocar os demais endereços em ordem alfabética. Também pedimos que nos indicassem alguns coquetéis que costumam beber nos seus bares prediletos. Pode ter certeza de que qualquer dessas escolhas deve resultar em satisfação garantida.
Picco
Picco é um dos bares mais bacaninhas da cidade. Sem muito perecoteco na decoração, preza pela qualidade dos coquetéis, que apresenta de forma minimalista, sempre com sabor. A equipe do bartender e proprietário Lula Mascella entende do riscado e sabe interpretar o perfil de cada bebebor. Agrada a quem quer receitas clássicas ou a quem quer se esbaldar na festa de criatividade que a carta de drinks autorais oferece.
O Daiquiri do Picco (rum, limão e açúcar) é um exemplo de equilíbrio. Das receitas criadas pela equipe, prove o potente e complexo Guga In Manhattan (bourbon, óleo de coco, vermute tinto, café, amaro, laranja e iogurte). Entre os refrescantes, sugerimos a versão milk punch do mate de praia, Old Mate (uísque escocês, chá mate, amaro e limão). Bom de beber na calçada do bar, onde as rodinhas de papo se formam. Para matar a fome, pizzas de massa leve com ingredientes que repetem a linha de qualidade dos coquetéis.
Boca de Ouro
Há tempos o Boca de Ouro é um dos bares preferidos pelos bartenders, que encontram ali coquetéis clássicos preparados à perfeição, com respeito pelas receitas e técnicas originais. O espaço, no térreo de um sobradinho, é pequeno e quase sempre abarrotado, mas vale acotovelar-se para saber a razão de o Boca ser tão querido.
Para quem é do frescor e do dulçor, a pedida pode ser o Amaretto Sour (licor Amaretto, limão-siciliano e clara de ovo). Fãs dos tragos robustos deliciam-se com o Hanky Panky (gim, Fernet e vermute tinto). Se a carta não tem grande variedade de drinks autorais, pelo menos um deles ganhou tanta fama que segue sendo replicado por vários bares de São Paulo. Macunaíma (cachaça, açúcar, limão e Fernet) é um novo clássico brasileiro, criado por Arnaldo Hirai, sócio da casa. O bolovo do pedaço também é um sucesso.
Caledonia
O Caledonia é reconhecido como “o templo do whisky” em São Paulo, o que de fato é. Nasceu como extensão do blog O Cão Engarrafado, de Mauricio Porto, sócio da casa. É tudo o que quem ama a bebida maltada procura, com rótulos de diversos perfis e procedências, num ambiente sóbrio, revestido de madeira de carvalho e com poltronas confortáveis.
A coquetelaria, porém, ultrapassa o scotch e o bourbon, oferecendo tragos para quem gosta de gim, vodca, cachaça e outros destilados. King James é um dos drinks mais pedidos desde a inauguração da casa, com uma longa lista de ingredientes (uísque irlandês em banho de manteiga com amêndoas, blend de Jerez PX, vermute de Jerez e vinho madeira, queijo grana padano, jamón ibérico e bitter de cacau). A carta de martinis é um passeio por alguns dos melhores rótulos importados de gim disponíveis no mercado e um dos destaques é Stirred, Not Shaken (gim, scotch defumado, licor de elderflower, Jerez Fino e solução salina). A gastronomia da casa é de responsa e a barriga de porco glaceada com bourbon é a pedida para quem não teme as calorias.
Fel
É preciso um pouco paciência ou perseverança para conhecer o Fel, incrustado no calçadão do Edifício Copan. As chances de dar com a porta na cara são grandes, já que é um dos menores bares de coquetelaria da cidade – cabem apenas
13 pessoas. A dica é chegar no horário de abertura, por volta das 17 h, pois a casa não faz reservas.
O programa antecipado ou a cabulada do finzinho do expediente valem cada gota. Sóbrio, de luzes baixas e conversa em volume moderado, o Fel preza pelos clássicos esquecidos, receitas garimpadas em velhos livros de coquetelaria, como a do Benson Hill (brandy Napoleon, cordial de limão-taiti e suco de limão-siciliano), recolhido de um compêndio inglês de 1872. Outra receita indicada pelos bartenders é Venizelos (licor kummel, gim e noz-moscada). Foi publicada na França em 1921. A barra hoje é comandada pelo bartender Fábio Dias e já esteve a cargo de Mia Rossi e de Felipe Rara.
Guarita
O Guarita é sempre uma festa, especialmente nos fundos da casa, quase sempre coalhada de gente falando alto, para sobrepor o volume da playlist rock’n’roll. Quem quer um clima mais calminho, pode optar pela varanda da frente. O importante é tomar o banho de sabor dirigido por Jean Ponce, sócio da casa e um dos mixologistas responsáveis pela virada de qualidade da coquetelaria paulistana nos anos 2000.
A carta atual, em formato de capinha de CD, homenageia hits do rock, mas tem mais complexidade que os acordes básicos do estilo. Quem quer começar tendo uma boa impressão, pode pedir o milk punch Disorder (scotch, Fernet, tamarindo, limões), que une potência e refrescância. Para os do rock pauleira, indicamos Blinding Lights (scotch, vinho Tempranillo, Jerez Fino, Lillet e presunto de Parma para harmonizar). Pizzas de fermentação natural são uma boa pedida para quem quer abastecer o estômago.
Koya88
O bartender Thiago Pereira e o chef Thiago Maeda são os novos reizinhos das noites do centro de São Paulo. Não cansam de abrir bares e o Koya88 é a joia da coroa. Representa como poucos a conversa entre comida e bebida, entremeando as delicadezas (e outras opções mais punks) vindas da cozinha e o equilíbrio dos drinks.
A primeira duplinha pode ser a porção de edamame na manteiga com o Banana Portrait (blend de runs infusionados com banana, shochu de cevada, bitter de cacau e maple). Voo mais ousado é o sanduíche de bochecha de porco ou os camarões agridoces com o Mr. Shinoda (scotch com infusão de chá lapsang souchong, mel e bitters de cacau e laranja). Estando no Koya, fica fácil fazer um tour pelos bares dos Thiagos, provando um drink em cada. Na mesma calçada da Jesuíno Pascoal, estão o Bagaceira, tipo botecón, e o Krozta, de pegada italiana. Ambos mantêm a mesma medida entre boa comida e boa bebida.
The Liquor Store
O sonho de alguém que curte coquetelaria, no duro, é um bar como o Liquor Store. Tranquilo, pequeno, com a iluminação ideal, o som não muito alto e perfeição na execução das receitas. O lugar funciona como laboratório de experiências do grupo Tan Tan, do chef Thiago Bañares, e reúne receitas inventivas com base sólida no repertório clássico.
Coco Chanel (rum, coco e orgeat) é uma das pedidas mais populares. Outra delícia é Barbados Coldbrew (reinvenção do Espresso Martini com rum, café e xarope de especiarias), twist do bartender Caio Carvalhaes. A oferta de receitas tradicionais é vasta e, caso não encontre seu preferido no menu, é bem possível que a equipe possa e saiba prepará-lo. Uma carta de martinis, tendência atual nos bares de São Paulo, pode ser harmonizada com ostras. Recomenda-se fazer reserva, pois também é pequenino.